Viciados em antagonizar

Artigos | 19/04/2023

Pedro Dias Dal Magro, artigo publicado no Jornal do Comércio em 29/11/2021

Friedrich Hayek escreveu, em O caminho da servidão, que o principal motivo para os “piores chegarem ao poder” está no fato de uma liderança conseguir aglutinar grande apoio em torno de uma agenda negativa em discordância de determinado inimigo. O nós contra eles é primordial para conseguir encantar, mas sobretudo para manter uma fidelidade irrestrita dos adeptos. Focando no confronto e na autodefesa, o líder acaba tendo carta branca para tomar qualquer atitude em nome de uma dita salvação, muitas vezes utópica e artificial. O eles já foram, ao longo da história, judeus, cristãos, empresários, o establishment e outras tantas vertentes – merecedoras, ou não, de um antagonismo.

Na busca por encontrar algum nome que seja capaz de vencer os dois personagens favoritos ao pleito presidencial de 2022, lideranças políticas adversárias remontam a uma trajetória antiga de buscar apoio da população por meio de sentimento antagônico a outras ideologias e candidatos. Porém, a derrota já estará estabelecida desde o início de uma campanha em que os únicos argumentos sejam acabar com o lulopetismo ou o bolsonarismo. Como escreveu o filósofo espanhol Ortega y Gasset há quase cem anos, ser restritamente anti-algo é apenas rebobinar um filme inteiro e voltar a uma situação passada, exatamente no ponto onde figuras que desejamos apagar da história emergiram.

Focar unicamente no antagonismo a Lula e Bolsonaro pode até trazer uma vitória inesperada de uma terceira força no pleito do próximo ano. No entanto, para superar os problemas do Brasil, é preciso muito mais do que simplesmente vencer uma eleição. São necessários planos adequados à realidade do século XXI e aos desafios de superar as mazelas deixadas pela pandemia e por um desempenho econômico pífio na última década.

Um candidato que expresse o respeito pelas liberdades individuais, que não deseje criar ou aumentar impostos, que busque soluções genuínas para a educação, que não use instituições para aparelhamento de aliados e que não vanglorie figuras ditatoriais pode rivalizar com os candidatos favoritos de hoje. Por mais que a polarização e os ataques verborrágicos sejam sinônimos de sucesso eleitoral, não apenas nos dias atuais e no Brasil, precisamos trilhar uma trajetória diferente. A defesa de boas ideias precisa ser o foco de uma campanha vitoriosa, ou então mereceremos seguir elegendo os piores.

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