O alquimista moderno

Artigos | 19/04/2023

Henrique Roman, artigo publicado em ZH em 3/1/2022

Aposto que você já ouviu um segredo da sua mãe ou do seu pai: “dinheiro não dá em árvore”. Ora, se folhas de árvores servissem como dinheiro, todos estariam ricos. Então, por que não usamos folha de árvore como dinheiro? Você já se perguntou por que o dinheiro é dinheiro?
Uma das características essenciais de uma moeda é a escassez. Em outras palavras, ela não deve ser abundante ou fácil de produzir em quantidade. A escassez é importante porque preserva o valor futuro, nos permitindo guardar riqueza. Se você souber que o dinheiro guardado hoje não valerá nada amanhã, não faz sentido guardá-lo.

Imagine se na Idade Média algum alquimista tivesse descoberto como criar ouro. Ele teria uma enorme vantagem inicial para comprar coisas. Mas, após um tempo, as pessoas perceberiam que o ouro já não seria tão escasso, e seu poder de compra reduziria.

Portanto, aquele ouro criado é uma miragem de nova riqueza: algo que antes custava 10 gramas de ouro agora inflaria para 20. Os preços aumentariam, e não porque o valor aumentou, mas sim porque o poder de compra do ouro diminuiu, já que há mais ouro circulando.

Então, se criar ouro fosse possível, o que aconteceria com sua poupança de 2.000 gramas de ouro? Teria seu poder de compra reduzido pela metade. E seu patrimônio, caso fosse precificado em gramas de ouro? Teria seu preço inflado. Mas isso só depois que você percebesse que o poder de compra do grama de ouro diminuiu. Até lá, o alquimista, criador de ouro, já teria se beneficiado dos preços antigos, mais baixos.
Porém, hoje não usamos o ouro como unidade de medida para preços, nem como moeda de troca no dia a dia. Usamos “papel-moeda”. Diferentemente do ouro, que só pode ser encontrado na natureza, o “papel-moeda” é criado pelo homem.

Por isso, ao alquimista moderno não seria necessária nenhuma mágica para criar “ouro”, como no passado tentaram os antigos alquimistas. Para o alquimista moderno criar “ouro”, basta ser o dono da árvore – ou melhor, da impressora – e todo ano colocar mais folhas em circulação.

Eu não sou sua mãe ou seu pai, mas também tenho um segredo: o alquimista moderno existe, e ele não sou eu nem você.

Henrique Roman, associado do IEE

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