Artigos | 19/04/2023
Victoria Jardim, presidente do IEE
Há muito a educação é apontada como um dos principais problemas do
Brasil, mesmo com alto grau de investimentos. O problema não é a quantidade,
mas a qualidade do que é investido. Priorizamos a formação superior em vez
da de base, e insistimos em escolas públicas, enquanto dados demonstram a
superioridade das privadas. O Censo Escolar aponta que no Rio Grande do
Sul, por exemplo, alunos de ensino médio da rede pública tiveram uma taxa de
reprovação de 17,2%, contra 3,8% da rede privada.
Diante desses números, e considerando que, no Brasil, um aluno de
escola pública, na média, custa mais do que um aluno de escola privada,
opções como o sistema de voucher, ou charter school, deveriam ser consenso.
Acontece que aqui existe certa aversão a soluções privadas para problemas
públicos, pois elas mexem com muitos incentivos e privilégios. Por sorte (ou
competência), a iniciativa privada já se tornou craque em realizar mudanças
por si só.
Semana passada, aconteceu no Estádio Beira-Rio o “Crie o Impossível”.
O evento contou com cerca de 10 mil alunos de ensino médio presencialmente
e 200 mil online. O Crie tem por objetivo impactar a vida dos jovens para que
eles voltem a acreditar em si mesmos, inspirados por histórias de superação
dos professores do dia – empresários, artistas e outros profissionais de
sucesso que têm a mesma origem humilde dos alunos. O evento é apenas o
primeiro passo de uma longa jornada de aprendizado que desafia os jovens a
solucionarem um problema na sua comunidade. É empreendedorismo na veia,
e meritocracia também, pois os responsáveis pelos melhores projetos acessam
as melhores oportunidades da plataforma.
Não é preciso concordar com o posicionamento de 100% dos
palestrantes para enaltecer a relevância da iniciativa. Sabe-se que a vida é
feita de experiências, e que grandes experiências mudam a vida das pessoas.
Obviamente, o problema da educação brasileira é muito mais abrangente do
que a simplificação que fiz, mas propostas como a do Crie, que surgem de
maneira orgânica, dando oportunidades reais para os jovens, colocam em
evidência a superioridade do mercado em produzir soluções mais eficientes
para problemas complexos. Criar o impossível – a solução da educação no
Brasil – passa, sim, por um modelo mais livre e privado.
Artigo publicado originalmente no jornal Zero Hora em 8 de junho de 2022