O fracasso de uma moeda bolivariana

Artigos | 18/04/2023

Matheus Gonzalez, CFP, líder de Alocação e Produtos da Liberta Investimentos e associado do IEE

A criação de uma moeda única latino-americana é uma pauta que ocasionalmente surge no Mercosul, mesmo entre economistas de lados opostos da teoria econômica. Em 2021, Paulo Guedes sugeriu uma moeda supranacional, dizendo que o Brasil seria a Alemanha do bloco. Será?

O formato agora em debate não é de uma moeda única, mas, sim, comercial, diz o governo brasileiro. Ou seja, o real e o peso argentino não deixarão de existir. A premissa para a criação da sur é de retomada da relação com nossos hermanos, que, segundo o presidente Lula, “nunca deveria ter sido truncada”.

Fato é que esse truncamento se justifica pelo péssimo desempenho da economia argentina. No início do milênio, 12% das importações brasileiras vinham de lá; hoje, são menos de 5%. Nas exportações, a participação caiu de 11% para 4,6%.

O PIB da Argentina encolheu 25% em dólar, de US$ 643 bilhões (2017) para US$ 487 bilhões (2021). Já a inflação disparou. O acumulado de janeiro de 2017 a dezembro de 2022 foi de 1.014,5%, segundo dados oficiais. Sem mencionar seu histórico de calote da dívida soberana, déficit nas contas públicas desde 2009 e os 30 diferentes câmbios oficiais. Ou seja, com uma gestão política e econômica desastrosa, o país terminou 2022 em uma situação difícil. Comemoração, para os argentinos, somente na Copa do Mundo.

Há um exemplo recente de proposta de moeda latino-americana. Em 2010, a Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América criou a sucre, com o objetivo de facilitar o comércio entre Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba e Nicarágua. Segundo Hugo Chávez, seria “o primeiro passo para nos libertarmos da ditadura do dólar”.

Seu ápice foi em 2012, quando 2,6 mil transações somaram mais de US$ 1 bilhão. No entanto, desde a queda livre econômica da Venezuela, a moeda viu seu uso desabar. O que pode ser um indicativo do futuro da sur.

Há 19 anos temos uma moeda estável e trajetória descendente de inflação e juros. Seria uma grande irresponsabilidade uma eventual política que abra mão dessa conquista.

  • Artigo publicado originalmente no Jornal Zero Hora em 07/02/2023

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