Desafios da dolarização da Argentina

Artigos | 06/10/2023

Matheus Gonzalez, head de alocação e produtos da Liberta Investimentos e associado do IEE

A Argentina vive um caos econômico, e esse será o principal desafio a ser enfrentado pelo próximo presidente. Em agosto, a inflação anualizada foi de 124,4%, a população abaixo da linha da pobreza está em 40% e o governo acumula déficits nas contas públicas há mais de 10 anos. Mas o que é mais perceptível, sobretudo aos turistas, é a trágica gestão da política cambial.

Quem visita a Argentina hoje encontra inúmeros doleiros trocando peso por dólar com cotações muito mais atrativas do que o câmbio oficial, chamado de dólar blue. O candidato que lidera as pesquisas, Javier Milei, propõe o fim dessa anomalia com a dolarização formal do país.

De fato, a economia argentina já é informalmente dolarizada. Sua população possui o maior número de notas de dólar fora dos EUA, entre US$ 150 bilhões e US$ 200 bilhões, estoque muito superior ao de pesos nos bancos, com US$ 50 bilhões. Ou seja, a população já fez sua escolha.

O motivo pode ser a saudosa década de 1990, quando a inflação caiu de 1.000% para 0% entre 1996 e 2001 devido a duas medidas: zero déficit público e paridade cambial do peso com o dólar por meio de um sistema conhecido como currency board. Nele, a taxa de câmbio é fixa, e a base monetária varia conforme as reservas internacionais. Isto é, o banco central não podia imprimir dinheiro, o que o impedia de desvalorizar a moeda. É esse princípio que Milei tenta resgatar agora.

Os economistas que compõem a chapa La Libertad Avanza entendem que a Argentina não tem maturidade para ter um banco central, pois serve apenas para imprimir dinheiro que financia a máquina pública.

A implementação da dolarização não é trivial. Segundo Emilio Ocampo, economista por trás do plano, será necessária uma transição para ganhar confiança do mercado e da população para se obter volume suficiente de dólares. Hoje, a Argentina possui meros US$ 24 bilhões, que advêm de um swap com a China, além de um passivo de US$ 30 bilhões.

O desafio é grande e passará pelo fim das políticas peronistas que dominaram o país nos últimos 50 anos.

 
Artigo publicado originalmente no Jornal Zero Hora em 02/10/2023

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